As emoções a escrever este post são tantas que nem sei por onde começar. Estivemos em Antigua uma semana, e fomos vendo pessoas no hostel onde ficamos a sair para subir o Acatenango. Informamo-nos, vimos uns vídeos e sabíamos que era uma oportunidade única. Ao subir o Acatenango podíamos subir um vulcão mas o melhor era a vista priveligada para outro vulcão ativo: Fuego.
No dia em que estávamos mesmo para ir, entrou pela porta do Hostel um casal de Portugueses que estão a viajar do Alaska até ao Chile. Também queriam subir a um vulcão e decidimos ir no dia seguinte. Confesso que tinha saudades da falar e dar umas gargalhadas em Português. Decidimos todos juntos fazer esta caminhada ao Acatenango.
Havia duas hipóteses: subir o Acatenango em dois dias, há grupos que sobem durante o dia, levam tendas, sacos cama, comida e lenha e ficam lá em cima no topo, descendo no dia seguinte ou subir com um guia e descer no mesmo dia. Como o melhor é ver o nascer-do-sol, não queríamos andar a transportar lenha, e sabíamos que levar a Duna seria um stress, optamos pela segunda. Que ingénuos. Eram 23.30 quando iniciamos a subida, o nosso guia, experiente, e que recomendo a qualquer pessoa que venha, o Sr. Alberto, disse que subíamos em 4 horas e se subíssemos mais cedo íamos ter que esperar muito tempo pelo amanhecer e lá em cima fazia muito frio. Tínhamos vestido: camisolas térmicas, casaco de capuz, e um kispo. Alugamos um pau para nos ajudar a subir e descer. E começamos.
Os primeiros 20 minutos foram um inferno. Todos pensamos em desistir. A subida era muito inclinada e logo de seguida outra não tão inclinada mas super escorregadia. Estamos a subir um vulcão, portanto a encosta é areia vulcânica. Era como subir uma duna na praia, com as sapatilhas a enterrarem-se e cada dois passos em frente dávamos um para trás. Pensei em desistir. Mas depois ficou plano por 2 minutos e aliviou a caminhada. Olhei para o relógio tinha passado uma hora. O trajeto seguinte foi sempre, sempre a subir, muito inclinado. Não víamos nada por ser de noite, ouvíamos vozes de pessoas que seguiam atras de nós. Não éramos os únicos malucos. Fizemos uma primeira pausa para umas bananas e os nossos amigos portugueses para um quadradinho de chocolate.
Não sei o que estava naquele quadrado de chocolate mas depois disso, eles começaram a subir a um ritmo muito rápido comparado com o nosso, ou o meu. Até os chamamos de “os flechas”. O Ivo ficou comigo e lentamente fomos ficando para trás. No proximo local de paragem nem guia, nem eles. Continuamos a subir ao meu ritmo, lento, lento, lento. Olhei para o relógio e já eram 2 da manhã. Deveria faltar 50% mas a este ritmo devíamos estar a 25%. De repente encontramo-nos com o Alberto. Deu indicações para eles seguirem e veio ter connosco. Paramos noutro descanso para umas bolachas e uns rapazes vendiam café. Disse ao Ivo o que já lhe tinha dito umas 20 vezes naquele trajeto: “vai tu, a sério, não percas isto. Eu vou para baixo. Há muita gente a subir e não me vai acontecer nada.” Mas ou íamos os dois ou não ia nenhum e lá me fui empurrando um pouco mais.
Nunca mais vimos os flechas e o guia começou a ficar preocupado, porque se se perdessem facilmente podia começar a subir o vulcão errado e neste caso seria o Fogo, activo. Viu que eles tinham seguido pelo lado mais longe, deu-nos indicações e foi ter com eles apanhando-os à frente. Ao chegar ao final desse trajeto íamos ter duas hipóteses, ou subíamos até ao cume, mais uma hora e trinta minutos, ao meu ritmo talvez um pouco mais de duas horas ou seguíamos para o sítio mais próximo para ver o Fogo, a uma hora de distância.
Claro que optamos pela segunda opção, eu já tinha chorado três vezes. É uma luta constante da mente com o corpo, tentava abstrair-me do caminho, pensar em coisas divertidas, media se era mais cansativo subir aquilo ou fazer um casamento,... e um lado do cérebro sempre a dizer: tu não consegues, és burra, olha no que te foste meter, e agora vais ter que descer isto tudo,... e o outro a pedir: só mais um bocadinho, não falta nada.
Nesse percurso em que fomos deixados sozinhos pelo guia sentamo-nos umas 6 vezes, na última alcançou-nos outro grupo e perguntamos ao seu guia quanto faltava para chegar ao sítio onde o Alberto nos esperava. Eles são mesmo incríveis e para nos dar alento vão mentindo ao longo do caminho, 5 minutos e estão lá. E nós, com coragem, ok são só mais 5 mas passaram 20 até lá chegarmos. Eram 4.30 e ainda nos faltava a última hora.
O guia esperava por nós com uma fogueira acesa. Os nossos companheiros desta grande aventura já tinham ido para o topo. Chega o grupo que já nos tinha alcançado e tentam convencer-nos a ir até ao cume com eles. Não cedemos. O Alberto diz que agora a próxima hora é tudo plano e que não vai custar nada. Não era assim tão plano e tívemos que trepar por cima de rochas. Quase a chegar ao local, ainda de noite e ouvimos o vulcão. Já o tínhamos ido ouvindo mas nada assim, de repente o Alberto diz: corram, apressamo-nos e vemos uma enorme explosão de lava a escorrer pelo vulcão. Chorei pela quarta vez. Que privilégio, quanta emoção. Esta imagem de ver um vulcão a explodir vai perdurar no tempo. A natureza a mostrar todo o seu poder, a dizer “vocês são mesmo pequenos”.
Em nada tínhamos chegado. Já quase não se viam estrelas, o sol já começava a nascer, o vulcão ainda nos brindou com algumas explosões mas nenhuma tão grande e tão incrível. Eram 6h da manhã quando começamos a descer. Para quem já fez parte do caminho de Santiago, o Cebreiro é quase do mesmo tamanho deste vulcão, de 3976m, e sabe que o pior nem sempre é a subida mas a descida a Tricastela. Por isso ia preparada para o pior.
Esperamos pelos nossos amigos, estavam a descer desde o topo. Adoraram, mas dizem que o final foi de loucos, tinham que subir praticamente de gatas. Vamos descendo, devagar, a travar, com os paus a segurarem-nos, a cair de cu. Paramos aqui e ali. A descida revela-se interminável, não se avistava o final. Aí agradeci por ter subido de noite e não ver o caminho que estava à minha frente se não acho mesmo que tinha desistido. Vamos perguntando ao guia como crianças numa viagem de carro: e agora quanto tempo falta? E agora? E agora? E ele vai mentindo, nunca sai de uma hora. Diz que vamos muito devagar.
Chegamos aquela subida em que dois passos para a frente era um para trás, e aí foi sempre a cair. Estava tentada a descer deitada. Não tinha fim, voltei a chorar de raiva por ter concordado em fazer isto. Gritei que não tinha valido a pena o esforço, que foi incrível ver o vulcão mas que esta tinha sido a coisa mais dolorosa que já tinha feito.
Finalmente chegamos, eram 10h00 da manhã. Demoramos 11h00, talvez tenhamos sido os mais lentos alguma vez a fazê-lo. Mas hoje sinto um orgulho enorme em ter conseguido, em termos conseguido juntos. As melhores coisas da vida estão mesmo escondidas nos nossos maiores pesadelos.
Pelo caminho descobrimos que é possível subir a cavalo por 50€ por pessoa. E sinceramente, recomendo. Nós pagamos todos pelo guia 35€, e acho que o Sr. Alberto tem o trabalho mais difícil do mundo, ele orgulhoso diz que não lhe custa nada subir aquilo e que o faz 3 vezes por semana. 47 anos, sem problemas de joelhos e com muita força. Se vierem para estes lados falem com ele